Opiniões que ninguém pediu 11
Opiniões que ninguém pediu 11
Por Jordana Herzog e Filipe Teixeira
Junho, 2023.
O que assistimos ou como tentamos preencher o buraco deixado por Succession:
Jordana:
The Bear - 2ª temporada (Hulu, 2023). A primeira temporada é tão perfeita e termina tão bem, que pra mim é o tipo de série que eu não sei se faria uma segunda. Felizmente fizeram, sem estragarem a perfeição da anterior. Para quem não conhece, a série gira em torno de um restaurante americano que o chef Carmen Berzatto herda do seu falecido irmão. Ele deixa um restaurante com 3 estrelas Michelin para tentar salvar o local e seus cozinheiros da falência. Além do roteiro, atuações e trilha sonora incríveis, temos participações especiais nesta temporada da nata da televisão (e cinema): Olivia Colman, Jamie Lee Curtis, Bob Odenkirk, Sarah Paulson, Gillian Jacobs são alguns dos nomes. O ritmo frenético da série voltou com tudo, houve episódios que eu deixei o som bem baixinho pra incomodar menos minha própria ansiedade, então se isso é um gatilho para você, recomendo ver com calma. O 6º episódio, o mais caótico, foi a única coisa que assisti nos últimos tempos que preencheu um pouco do vazio deixado por Succession em termos de você ficar sem palavras vendo os créditos rolarem. Eu também amei muito o desenvolvimento do personagem Richie, para mim foi o destaque da temporada, e não poderia ser diferente, considerando que ele provou ser um grande fã de Taylor Swift (ainda nem acredito que “Love Story Taylor’s Version” toca, sério).
Attack on Titan (Temporadas 1-Parte 3 da 4. Wit Studio e MAPPA, 2013-2023). Banana Fish continua sendo o anime amor da minha vida, mas AOT já conquistou o segundo lugar desde o começo. Adaptado do mangá de Hajime Isayama, é ambientado num suposto mundo pós-apocalíptico em que os humanos que restaram vivem escondidos dentro de muralhas gigantescas que os protegem de titãs canibais. Quando a muralha é invadida por um, três jovens amigos decidem se juntar ao exército para lutar contra eles. AOT tem muitas alusões à guerra em geral: muitas tragédias, decisões difíceis, espiões e infiltrados, mortes de inocentes e políticos mentirosos. Não temos heróis nem vilões puros, cada personagem tem uma história e suas motivações compreensíveis para as atrocidades que são levados a cometer. Apesar de longo, é um anime que prende desde o começo porque é um roteiro incrível e têm MUITAS reviravoltas que você fica 😱 e 🤯 e 😵 e mais. Não preciso dizer que estou ansiosa por 3 pessoas para o final que sai este ano ainda, e ficam aqui meus parabéns aos guerreiros que estão há 10 anos acompanhando, viu?
Demon Slayer: To the Swordsmith Village (MAPPA, 2023). Contém spoilers. Ainda no tema NIMES, tivemos a terceira temporada de Demon Slayer, que estava com a fanbase ansiosa. Eu esperava muito mais dessa, senti falta dos meus personagens favoritos, como o Inosuke e o Zenitsu. Sei que não estão no arco, mas poderiam ter sido incluídos de alguma forma. Os primeiros episódios foram bastante lentos, acabando bem quando algo relevante ia acontecer, e pouquíssimas coisas relevantes aconteceram na temporada como um todo. Já o final foi espetacular. Para quem não leu o mangá como eu, foi definitivamente uma surpresa daquelas! A animação é simplesmente s u r r e a l de boa (talvez a gente devesse se preocupar com os familiares do pessoal que trabalha pro MAPPA, se é que eles têm família).
Eu Nunca (4ª e última temporada. Netflix, 2023). Entre as necessidades básicas de um ser humano hoje em dia estão as séries adolescentes. O conforto proporcionado por ver jovens de classe média fazendo besteiras e sofrendo dramaticamente em um quarto perfeitamente limpo e decorado, com uma janela pros crushes entrarem no meio da noite, é algo inexplicável. Essa é uma das melhores séries que você vai encontrar na Netflix, sem brincs. Conta a história de Devi, adolescente com ascendência indiana tentando ascender na escala de popularidade do Ensino Médio enquanto lida com o trauma da morte prematura de seu pai. É leve, engraçada, divertida, mas com aquela boa dose de drama familiar que você vai dar uma chorada. SPOILERS À FRENTE: Eu sempre fui team Ben e não poderia ficar mais satisfeita com esse final! Além disso, o desenvolvimento da Devi, pontuado pela terapeuta incrível dela, fechou com chave de ouro demais. Esses xóvens vão deixar saudade!
Filipe: I Wanna Dance with Somebody - A História de Whitney Houston (Kasi Lemmons, 2022). HBO Max. Sou da turma cujo conhecimento sobre Whitney Houston se limita a O Guarda-Costas, à música tema do filme “I Will Always Love You” e ao fato de que ela morreu prematuramente aos 48 anos. Então 99% de I Wanna Dance… foi novidade pra mim. De qualquer forma, já faz um tempo que eu parei de me importar com a fidelidade de obras de ficção baseadas em fatos reais. É pra isso que existem documentários, livros biográficos, autobiográficos etc. E OLHE LÁ! Afinal, a verdade nem sempre é absoluta. Dito isso, vou falar aqui do que achei do filme e não do quão fiel ele é à história da cantora conhecida como A Voz. Ao longo das 2 horas e 20 minutos de história, fica claro como nenhum outro título seria digno dela, já que, nos números musicais, ouvimos a poderosa voz da cantora, dublada pela talentosíssima Naomi Ackie, que protagoniza a obra. Pra mim, esses momentos são o ponto alto do filme, tanto pela pujança que a voz de Whitney Houston tem quanto pela interpretação da atriz, que faz você JURAR que é ela quem tá cantando, ao contrário de certos atores que interpretaram certos vocalistas de certas bandas inglesas em certos filmes que ganharam certos prêmios não sei como. Outro ponto positivo é a atuação do sempre maravilhoso Stanley Tucci, que interpreta o produtor da Arista Records Clive Davis. Mas um aspecto essencial do filme deixa a desejar, que é a decisão de contar a história inteira da personagem, fazendo com que os eventos ficassem muito atropelados e muitas cenas, meio soltas, no intuito de representar períodos bem mais longos. Mesmo assim, acredito que o resultado seja positivo.
The Last of Us (Craig Mazin, Neil Druckmann, 2023). HBO Max. Quando saiu a notícia de que o jogo The Last of Us seria adaptado para a TV, não dei muita bola, afinal, desde que o Nintendo 64 foi lançado, nunca mais joguei qualquer jogo de videogame que não fosse de futebol ou Fórmula 1. Mas aí, num domingo qualquer, na ressaca de Succession, comecei a ver The Last of Us. E não me arrependi. Claro que, se o Pedro Pascal tá envolvido, já é meio caminho andado pra eu gostar. E a química dele com a Bella Ramsey é sensacional, parece que conviveram a vida toda. Também adorei a trilha O Segredo de Brokeback Mountain energy, que dá um climão que destoa da ameaça de você ser infectado por um morto-vivo cheio de fungo e combina mais com a solidão dos personagens e a desolação do ambiente. E como o lado psicológico e a trama das relações humanas me chamam mais atenção do que a pancadaria, a troca de tiros, o canibalismo e uma ou outra decapitação, não me incomodou em nada a pouca proporção de cenas com zumbis. Pra falar a verdade, o apocalipse é na verdade só um pano de fundo pro roteiro explorar o drama humano em condições extremas. Dois episódios que reforçam isso são o terceiro — “Por Muito, Muito Tempo” —, com o eterno Ron Swanson e baita ator Nick Offerman, e o sétimo — “O Que Deixamos para Trás”. E ao longo da temporada, Joel (Pascal) e Ellie (Ramsey) vão se expondo a situações que põem à prova seus traumas e convicções, fazendo com que percebam o quanto precisam um do outro não só por uma questão prática, de sobrevivência, mas porque passam a cultivar sentimentos que há muito não tinham — ou talvez nunca tiveram — a oportunidade de experimentar.
O que lemos:
Jordana: “O que você está enfrentando”, der Sigrid Nunez (Instante, 2021. Trad. Clara Fortino). O título desse livro me chamou atenção imediatamente. Compartilho do interesse da autora pelo tema da escuta que, em sua maioria, envolve ouvir histórias de sofrimento humano. Nossa “narradora-escutadora” é uma professora de Letras, e entre os personagens estão o filho da sua vizinha, cuja mãe está perdendo a sanidade; o ex, que dá palestras sobre como o mundo está acabando e as pessoas não deveriam ter filhos mais; um ex-gato de abrigo que sobreviveu um incêndio; e sua melhor amiga com câncer terminal. As duas decidem alugar uma casa e morar juntas até a morte da amiga, em uma virada tragicômica do livro. E é acompanhando os momentos finais desta que podemos enfim escutar as dores próprias de nossa narradora. Como costumo dizer com um amigo, este é um livro sobre beleza humana. Os momentos de alegria, medo, dúvida, tristeza, dor e coragem que todos enfrentamos na trajetória da vida, como compartilhamos da universalidade destes sentimentos e acontecimentos, como nos compadecemos da dor do outro, como nos preocupamos com o que alguém está enfrentando… há uma beleza humana que pode ser sentida e ouvida nisso. Um salve para a edição primorosa da editora Instante.
Filipe: Memórias de Minhas Putas Tristes, de Gabriel García Márquez (Record, 2005. Trad. Eric Nepomuceno). Quinze anos atrás, li esse livro pela primeira vez. E, obviamente, nem de longe o impacto que ele causou foi como agora, afinal é uma obra que fala sobre sentimentos e visões de mundo que um jovem incauto de 23 anos não está preparado pra apreender. O romance conta a história de um idoso que, no seu aniversário de 90 anos, dá de presente a si mesmo uma noite com uma virgem. A partir daí a narrativa se desenrola e passamos a conhecer mais da vida desse homem e da sua relação com o amor e o sexo. Como falei no Instagram e no Skoob, a qualidade desse livro está bem abaixo da que estamos acostumados quando se trata de Gabriel García Márquez, mas ainda assim as reflexões lançadas são dignas de nota, principalmente se nos dispusermos a falar sobre pedofilia, misognia e outros temas dessa ordem.
O que ouvimos:
Jordana:
Tive a oportunidade maravilhosa de dar aquela escapada de fim de semana com meu namorado em junho. Como uma amante de playlists, claro que eu tenho uma para o propósito estrada, e não foi difícil fazer pequenas alterações para combinar nossos gostos. Minha On the Road é composta essencialmente de rock anos 80 e 90: Nirvana, Led Zeppelin, Oasis, Pearl Jam, Audioslave, Red Hot Chilli Peppers e tudo mais que nos deu vontade de ouvir escapando da rotina, em alta velocidade. Você tem uma playlist de estrada? O que tem nela? 😏
Filipe: Podcast Primeiro Contato, 2ª temporada (B9 e Henrique Sampaio). Quando a primeira temporada de Primeiro Contato foi lançada, não dei muita bola, porque eu já acompanho 30 podcasts e sempre tô com pelo menos 60 horas de programas atrasados. Mas recentemente ouvi um episódio do Braincast intitulado O nascimento da internet no Brasil, que era na verdade uma amostra grátis da segunda temporada do Primeiro Contato (também produzido pelo B9) e não tive como deixar de acompanhar a segunda temporada. Nesse episódio do Braincast, o Henrique Sampaio, host e produtor do Primeiro Contato, conta sobre como, ainda na Ditadura Militar, a Embratel (referência de velho) lançou um programa que seria nossa primeira experiência com computadores em rede e deixa um gancho irresistível pra gente ouvir o podcast dele. Ainda tô no segundo episódio, mas já deixo aqui a indicação porque é muito bem produzido e informativo, principalmente pra quem gosta de história, tecnologia ou é só curioso mesmo.
1001 Discos para Ouvir Antes de Morrer. Junho (discos de 65 a 69) foi um mês de um alto e alguns baixos. Comecei com Songs of Leonard Cohen (1967), adivinha de quem!, que não me empolgou muito (talvez porque eu tenha criado muitas expectativas) e ficou em 28º lugar. Dois discos que ficaram na meiúca da tabela: Odelay (1996), do Beck, em 59º lugar, e Snivilisation (1994), do Orbital, em 45º lugar. Teve também o fusion de Headhunters (1973), do Herbie Hancock, em 13º lugar. E pra deixar o melhor pro final, ouvi este monumento em forma de disco: At Mister Kelly’s (1957), de Sarah Vaughan, que quase desbancou o Morrissey e ficou em 2º lugar. As playlists com minha música preferida de cada disco estão devidamente atualizadas no Spotify e Deezer.
Depois de 69 semanas, o top 10 ficou assim:
Viva Hate - Morrissey (1988)
At Mister Kelly's - Sarah Vaughan (1957)
Californication - Red Hot Chili Peppers (1999)
First Band on the Moon - The Cardigans (1996)
Moon Safari - Air (1998)
Being There - Wilco (1996)
Everybody Knows This Is Nowhere - Neil Young with Crazy Horse (1969)
A Rush of Blood to the Head - Coldplay (2002)
Rust Never Sleeps - Neil Young and Crazy Horse (1979)
Tom Tom Club - Tom Tom Club (1981)
Quem somos:
Jordana: Graduada em Psicologia. Acabou enveredando para a tecnologia, onde atua como Search Engine Evaluator. Gosta de filmes e séries de boneco (lê-se Marvel, DC, Star Wars, Lord of the Rings e mais), anime, gatos, literatura e de estar com quem se ama. Comanda o @fortalendo no Instagram e já publicou textos no Bemdito.
Filipe: Graduado em Letras. Já trabalhei como professor, mas hoje atuo como tradutor freelancer. Passei a gostar de cachorros recentemente, mas ainda tenho ressalvas quanto a tomar sorvete na sobremesa. Escrevo de forma amadora e bem esporádica e talvez um dia eu tome vergonha e publique um livro. Tem alguns dos meus textos aqui.