Opiniões que ninguém pediu 2
Por Jordana Herzog e Filipe Teixeira
Agosto, 2022.
O que assistimos:
Jordana:
Ms. Marvel: 1ª temporada: Começou bem divertido, teve alguns momentos parados... Em geral achei bem alegre, colorida, bem produzida. É uma série teen da Marvel, e no mínimo entretém. O final coroou bem a série com vocês sabem o que… aquela palavrinha que os fãs de X-Men queriam ouvir já há um tempo. E ainda mais com o sample da trilha do X-Men 97. Aleluia, arrepiei.
Rinha de gostosos: Ok ok, o nome do filme é “Agente Oculto”. Às vezes tudo que a gente precisa é de um bom blockbuster de ação. Com o Ryan Gosling, Chris Evans e Ana de Armas. Com eles dando pêia um nos outros. Com cidades europeias sendo destruídas sem consequências. Com o Ryan Gosling fazendo de tudo para proteger uma garotinha inocente. Com o Chris Evans se esforçando para fazer um vilão que sabe que no fundo ninguém vai realmente odiar.
The Sandman: Primeiramente, ainda não li as HQs, então tava totalmente confusa no começo. Meu primeiro elogio é pro elenco: achei todo mundo muito bom mesmo (Gwendoline, te amo mulher! Te amo Tom Sturridge emo em todos os séculos que viveu!). Meu segundo é pra filosofia envolvida em toda a história, especialmente o Morpheus tentando provar para todo mundo a importância dos sonhos, do sonhar como algo implícito a sobrevivência tanto quanto respirar e comer. Mas o ritmo da série me incomodou um pouco: muitos personagens, muita coisa acontecendo o tempo inteiro e acabou com pouco aprofundamento de arcos interessantes (como o do Hob). Dito isso, aguardo ansiosamente a próxima temporada.
Uncoupled: Neal Patrick Harris é a nova Carrie Bradshaw nessa série de dramédia da Netflix em que o namorado termina com ele na festa surpresa que havia acabado de ganhar (sim, dói até na gente!). Michael (personagem do NPH) se vê solteiro aos 40 e poucos em Nova York. A série é perfeita para ver em uma sentada, o riso e o choro são garantidos (e espero que uma segunda temporada também!)
A biscoitagem como item obrigatório a se cumprir na volta à solteirice.
Filipe:
O Senhor dos Anéis — Pois é, eu vi de novo. Pela sei lá quantas-ésima vez. Desde que a HBO Max lançou as versões estendidas que eu pus na minha lista, aí passei quase um mês vendo os três filmes. Embora o ritmo seja completamente diferente do que se produz atualmente, tem algo neles que me faz revisitá-los de tempos em tempos. Por isso, dediquei 12 horas e 6 minutos do meu tempo pra assistir novamente à saga de Frodo, Sam e companhia nessa trilogia que já nasceu clássica. Me diverti e me emocionei como na primeira vez que vi, pois uma vez nerd, sempre nerd. Agora é esperar a série do Prime Video, que vai contar a história da criação dos anéis do poder, que antecede em alguns milênios a narrativa que Peter Jackson adaptou pro cinema.
Ms. Marvel: 1ª temporada — Além do que a Jordana falou, queria destacar a atuação da Iman Vellani, que é como se fosse um alterego na vida real da própria Kamala Khan: uma adolescente de origem paquistanesa fã de HQs. O carisma da atriz preenche qualquer lacuna que a série possa ter deixado, lacunas essas que eu, como marvete fundamentalista, não percebi e, se você percebeu e quiser se manifestar, saiba que eu vou ter um argumento mirabolante pra defender a série. Outro aspecto muito interessante foi a abordagem da partição da Índia. Em relação aos costumes islâmicos, achei um pouco caricato, mas não considero que foi desrespeitoso e entendi como adequado ao tom da produção. Entendendo a série como destinada ao público adolescente, cumpriu demais o objetivo, além de ter sido palatável a véios chatos como eu.
O que lemos:
Jordana:
Kim Jiyoung, nascida em 1982, de Cho Nam-Joo. Independente de diferenças culturais, é uma verdade universal que não há corpo feminino que não tenha sofrido violência de homens, que não tenha sido e seja escrutinado ao longo da vida inteira pela sociedade patriarcal. Kim Jiyoung é uma mulher de 40 anos levada a largar seu emprego em uma empresa de marketing, pelo qual tanto batalhou para conquistar, para cuidar da filha recém-nascida (fato comum na Coréia). Pouco após o nascimento da filha, ela começa a apresentar sintomas incomuns: personifica vozes de mulheres vivas e mortas que passaram por sua vida, como que encarnando toda a história, todas as dores que estas têm em comum. O livro narra toda a trajetória de Kim Jiyoung desde as circunstâncias de seu nascimento, e nos faz refletir sobre como a sociedade e os costumes rígidos do seu país limitam a possibilidade de uma mulher ter sua independência, enquanto que para os homens a história é bem diferente. Em um capítulo que Kim discute com o esposo sobre os planos para ter um filho, ela o questiona:
“Do que você irá abrir mão, Oppa? Estarei arriscando minha juventude, minha saúde, minha vida social, meus planos de carreira e meu futuro. O que você vai perder ao ganhar um filho?”
O marido então responde que ficará triste por ter que comparecer a jantares de negócios e chegar tarde em casa, e terá que abrir mão ver os amigos com a mesma frequência. É preciso dizer mais algo?
O livro foi inspirado na própria vida da autora, e conta com dados reais sobre a injustiça de ser uma mulher coreana no mercado de trabalho. Há uma adaptação cinematográfica de 2019 disponível no site de torrent mais próximo de você.
Filipe:
Doze Contos Peregrinos, de Gabriel García Márquez — Como falei na newsletter passada, estava lendo quatro livros, e um deles era a coletânea de contos Doze Contos Peregrinos, do meu autor favorito da vida, Gabriel García Márquez. Eu escrevi uma resenha mais completa no Instagram e no meu perfil do Skoob, mas aqui vou me concentrar em um dos contos, cujo título é “‘Só Vim Telefonar’”, que conta a história de uma mulher que é internada por engano em um manicômio na Espanha durante a ditadura de Francisco Franco. Das histórias que compõem o livro, essa é uma das que não se utiliza do Real Maravilhoso, uma marca do escritor. Mas nem por isso deixa de ser muito interessante, de tão assustadora, agoniante e desesperadora que é a situação descrita. O que tornou esse conto ainda mais interessante foram dois podcasts que ouvi na mesma semana em que o li e sobre os quais vou falar na seção a seguir.
O que ouvimos:
Jordana:
“Hold on baby”, da King Princess. Ai gente, eu amo tanto essa mulher que nem sei, minha rockeira favorita da atualidade. Como muitas pessoas, eu conheci a KP por causa do Harry Styles twittando a letra dela, e virei fã desde então. Esse novo álbum é muito honesto em suas letras sobre relações passadas e atuais, amizades e autorreflexões. É uma confiante afirmação de tudo que ela já viveu, mas com espaço para questionamentos sobre o corpo que habita. Destaque para o clipe de “Too bad” e “Cursed” (que ela está uma pintura renascentista <3), e para a faixa final “Let us die”, que tem ninguém menos que Taylor f*cking Hawkins na bateria.
Simplesmente… ela.
“I felt free”, Circa Survive (versão acústica). Provavelmente vocês vão me ver todo mês aqui re-obcecada com alguma música que já gosto há anos. Não sou exatamente fã dessa banda, mas gosto bastante dessa faixa e versão. É sobre aquela liberdade melancólica que sentimos quando superamos uma paixão. A liberdade com o peso da responsabilidade de juntar nossos próprios cacos e aprender a amar de novo.
Filipe:
Podcast Geopizza #80: O Holocausto Brasileiro — Quem me conhece sabe que há quase uma década eu meio que respiro podcasts. Atualmente, consumo cerca de 25 programas, entre diários, semanais, quinzenais, mensais, além dos que publicam os episódios de forma seriada. Dito isso, e retomando o que falei na seção anterior, quero indicar um episódio do podcast Geopizza, um programa quinzenal de história, geografia e geopolítica apresentado por Rodrigo Zottis e Alexander Desmouceaux. A cada edição, eles abordam detalhadamente, a partir de uma intensa pesquisa, fatos e personagens que marcaram a história brasileira e mundial. E na mesma semana em que li “‘Só Vim Telefonar’”, eles publicaram o episódio sobre o Hospital de Barbacena, que durante 90 anos recebeu pessoas que eram internadas à força pelas famílias, por serem indesejadas devido a diversos motivos, clínicos ou não. O episódio é longo, no estilinho Geopizza de ser, mas muito bem conduzido pelos apresentadores.
Podcast 451 MHz: Stella do Patrocínio e a loucura no Brasil — Ainda no mesmo tema, indico um episódio do podcast 451 MHz, da revista Quatro Cinco Um (recomendo fortemente a assinatura se você curte literatura), que tem uma série narrativa que trata de grandes autoras e autores da literatura brasileira. Já teve episódio sobre Paulo Freire, Caio Fernando Abreu, Lygia Fagundes Telles, entre outros. E em maio deste ano, mês da luta antimanicomial no Brasil, eles lançaram um programa sobre Stella do Patrocínio, uma mulher negra e pobre que foi internada compulsoriamente no Centro Psiquiátrico Dom Pedro II e ficou lá por 30 anos, até sua morte, em 1992. Nos anos 80, seus falatórios foram gravados e publicados postumamente no livro Bicho do reino e dos animais é meu nome. O episódio aborda também o tema da luta antimanicomial.
Podcast Song Exploder — Mudando de assunto, mas ainda falando sobre podcasts, quero indicar meu podcast favorito do momento: o Song Exploder. A cada episódio, o criador Hrishikesh Hirway disseca uma música do melhor jeito possível: chamando artistas, produtores e produtoras pra falar sobre suas obras. No processo de edição, Hrishikesh retira suas perguntas, e a voz que escutamos é apenas a dos artistas, que tocam trechos da canção esmiuçada no episódio à medida que falam sobre suas inspirações, técnicas, causos da produção, entre outras pérolas. Tudo isso faz com que músicas que às vezes pudessem soar desinteressantes se tornem muito significativas, já que agora sabemos como ela foi construída. O podcast é quinzenal, pero no mucho, já que às vezes o intervalo entre um episódio e outro demora mais. A duração é bem curta, 20 minutos no máximo, vai direto ao ponto, sem apresentações nem despedidas desnecessariamente longas, mostrando apenas o que prometeu, com a objetividade que o virginiano gosta. Já passaram por lá nomes como Billie Eilish, Lorde, U2, Metallica, Fleetwood Mac, entre outros, ou seja, o negócio é sério. Ah, o podcast é em inglês, mas calma! Dependendo da sua intimidade com a língua de Joel Santana, há formas de acompanhar essa maravilha de podcast. No menu “Episodes” do site, tem uma lista com todos os episódios publicados e, para cada um, foi disponibilizada uma transcrição, o que pode ser um ótimo apoio à escuta caso seu inglês seja mais avançado, mas ainda precise de uma ajuda. E, se não for, dá pra copiar o texto e traduzir em alguma ferramenta de machine translation, tipo Google Tradutor. OK, é uma trabalheira, mas o podcast é bom demais e acho que vale a pena.
1001 discos para ouvir antes de morrer — Um mês e quatro discos depois, o top 10 teve uma alteração com a chegada do disco Moon Safari, do Air, os pais do Daft Punk. Curiosamente, os dois primeiros lugares têm “moon” no título e ambos são dos anos 1990, uma década da qual, particular e aleatoriamente, não sou lá muito fã. Outro disco deste mês foi The Chronic, do Dr. Dre, que não está disponível nem no Spotify nem no Deezer. Só “achei” no YouTube, então fiz uma playlist, esta sim completa, lá. Mesmo assim, continuo atualizando a do Spotify e a do Deezer, mesmo incompletas. Além desses, teve The Marshall Mathers LP, do Eminem, um disco muito bem produzido, mas complicadíssimo, já que tem até música narrando feminicídio, e One Nation under a Groove, do Funckadelic, que eu esperava ter gostado mais. Quem mandou alimentar expectativa, né? Bueno, segue o Top 10 atualizado.
First Band on the Moon - The Cardigans (1996)
Moon Safari - Air (1998)
Everybody Knows This Is Nowhere - Neil Young with Crazy Horse (1969)
Live! - Fela Ransome-Kuti and The Africa '70 with Ginger Baker (1971)
Aja - Steely Dan (1977)
Ragged Glory - Neil Young and Crazy Horse (1990)
Inspiration Information - Shuggie Otis (1974)
Miriam Makeba - Miriam Makeba (1960)
Black Sabbath Vol. 4 - Black Sabbath (1971)
(What's the Story) Morning Glory? - Oasis (1995)
Se você leu até aqui, estamos gratos e esperamos que esteja gostando :)
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Quem somos:
Jordana: Graduada em Psicologia. Acabou enveredando para a tecnologia, onde atua como Search Engine Evaluator e estuda UX. Gosta de filme e série de boneco (lê-se Marvel, DC, Star Wars e mais), de estar com quem se ama, gatos e literatura. Comanda o @fortalendo no Instagram e já publicou textos no Bemdito.
Filipe: Graduado em Letras. Já trabalhei como professor, mas hoje atuo como tradutor freelancer. Passei a gostar de cachorros recentemente, mas ainda tenho ressalvas quanto a tomar sorvete na sobremesa. Escrevo de forma amadora e bem esporádica e talvez um dia eu tome vergonha e publique um livro. Tem alguns dos meus textos aqui.
Não conhecia esse Song Exploder, ja adicionei pra ver, e vou deixar outros aqui na mesma linha (não sei se ja conhecem)
Strong Song - Mesma ideia de Song Exploder
The Soundtrack Show - Tb, mas voltado pra soundtracks de Filmes, Tv e Games
Twenty Thousand Hertz - É sobre qualquer som, bem legal
Ser Sonoro - Esse é brasileiro, muito bom mesmo, o fio narrativo que o autor criou nos 13 episodios foi muito bem feito!