Opiniões que ninguém pediu 9
Opiniões que ninguém pediu 9
Por Jordana Herzog e Filipe Teixeira
Março, 2023.
O que assistimos:
Jordana: Daisy Jones & The Six (Prime Video, 2023). Quando eu li o livro da Taylor Jenkins Reid, achei bem sem graça, mas o formato era interessante: ele é escrito como um documentário, e a narrativa alterna com os personagens sendo entrevistados. A história é sobre uma banda fictícia de rock dos anos 70, que rompeu no auge do sucesso e agora seus integrantes estão contando sua história pela primeira vez, anos depois. A época, as músicas e a descrição do figurino também me fez pensar que daria uma série ou filme muito melhor que um livro. Dito e feito: casting bem acertado, desenvolvimento de personagens secundários e um álbum muito bom que não sai da nossa cabeça. O final ficou um pouco bagunçado e apressado, e não gostei que colocaram o Billy tão boy lixo e imaturo, mas o saldo geral de mudanças no roteiro foi uma ótima minissérie. Pra mim, o destaque é a Camila Morrone (linda te amo) incrível como a INJUSTIÇADA Camila, que aguentou muito e ainda foi simpática.
Succession (Episódios 1-3 da 4ª Temporada. HBO, 2023). CONTÉM SPOILERS. “Jordana, mas a temporada tá é longe de acabar!” Meus amigos, vocês não estão entendendo o quanto eu sou obcecada por essa série e o quanto eu só quero falar disso, mais que a Cady Heron queria falar mal da Regina George (entendedores entenderão). A mais que aguardada 4ª e última temporada de Succession começou com um estrondo. O 3º episódio é um divisor de águas na série e na HISTÓRIA DA TELEVISÃO, TÁ?. Passamos 3 temporadas torcendo pro Logan morrer de forma cruel, então por que choramos a morte dele agora? Acredito que nunca vi uma morte de personagem central ser retratada de forma tão real e visceral como nesse episódio. Nós sofremos as fases do luto com os 3 irmãos Roy, Shiv, Kendall e Roman (Connor fez certíssimo em continuar sua cerimônia de casamento longe da família tóxica). O choque e a negação (eu mandando mensagem pro Filipe dizendo O QUE ESTÁ ACONTECENDO? no meio do episódio), a raiva (COMO VÃO MATAR O LOGAN ROY AGORA? A AUDÁCIA), o pesar (querer botar a Shiv dizendo “daddy” em um potinho e chorar com ela). Eu até perdoei o Roman na hora por se deixar manipular de novo. Enfim, parece que um parente nosso se foi.
As interpretações superaram qualquer expectativa e devem varrer o Emmy. Porém, passando nosso luto, sabemos o quão necessário foi para que a série tomasse um rumo diferente das temporadas passadas e chegue à uma sucessão de fato. Destaque também pro Connor no 2º episódio falando muitas verdades sobre crescer sem o amor da família e me fazendo querer defender ele pela primeira vez: o homi só queria curtir um karaokê com todo mundo junto, sabes? (Ainda sou time Kendall, só para deixar claro). Acho que não há nada na TV atual que se compare à grandeza de Succession, e mal posso esperar pra comentar o series finale gritando em caps lock com vocês aqui.
Adendo do Filipe: Não importa o quão bilionário que não bebe cerveja draft você seja, na hora da morte, da dor, sua humanidade acaba aflorando, mesmo que tosca ou timidamente. O episódio 3 desta 4ª temporada de Succession mostra exatamente isso e fez com que eu me policiasse o tempo todo pra não me apegar a essas pessoas.
Outro adendo do Filipe:
Filipe: Notícia de um Sequestro (Julio Jorquera Arriagada, Andrés Wood, 2022). Prime Video. A Aêgla Benevides fez um reel comentando sobre os livros de não-ficção do meu escritor preferido da vida, Gabriel García Márquez. Entre eles está Notícia de um Sequestro, do qual eu já falei na quinta edição desta news e também aqui. Em resumo, a obra conta a história de alguns reféns sequestrados pelo Cartel de Medellín para pressionar o governo contra a inclusão do mecanismo da extradição na nova Constituição do país. Bueno, nesse reel, a Aêgla fala também sobre a adaptação desse livro-reportagem lançada em 2022 no Prime Video. Confesso que já fui com o pé atrás, por dois motivos: 1. nada nunca vai alcançar a forma como Gabo conta qualquer história e 2. as últimas produções colombianas que eu vi não tinham lá muita qualidade. Porém qual não foi minha surpresa ao maratonar os seis episódios dessa minissérie. Embora os criadores tenham usado recursos narrativos que não estão no livro, o que é muito natural, a obra é bastante fiel à narrativa de García Márquez e recria toda a tensão que o autor imprimiu ao destrinchar os momentos dos sequestrados no cativeiro. Agora, uma vantagem da minissérie em relação ao livro foi a crítica à desigualdade social, que acaba sendo a primeira peça desse grande efeito dominó que culminou na situação vivida pelos personagens. Por fim, achei a decisão de não escalar um ator para interpretar Pablo Escobar muito acertada, pois como o cara é — mesmo que por razões nefastas — um PLANETA e atrai toda a atenção para si, acredito que desviaria o foco da história.
O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder (Patrick McKay, J. D. Payne, 2022). Prime Video. Pra mim, o universo de Tolkien é o que há de definitivo em termos de ficção de fantasia. Pago pau mesmo. Portanto, qualquer adaptação para qualquer mídia desse universo precisa ser muito ruim pra eu não gostar. E com essa série que o Prime Video alardeou como a mais cara das galáxias não foi diferente. Ela demora a engrenar, tem umas cenas meio difíceis de engolir (como a dos guardas AJUDANDO a Galadriel a prendê-los), uma vibe às vezes meio Nosso Lar, mas no fim das contas a atmosfera tolkieniana é o que se sobressai, por isso o resultado foi positivo. Acho pouco provável que as próximas temporadas superem ou pelo menos se igualem à produção comandada por Peter Jackson, muito menos aos livros, mas é Senhor dos Anéis, então tá valendo.
O que lemos:
Jordana: Via Ápia, de Geovani Martins (Companhia das Letras, 2022). Este é o romance de estreia do autor, nascido e criado em Bangu, no Rio de Janeiro. Narra a vida de cinco jovens: os irmãos Washington e Wesley, que trabalham como garçom e animador de festas, e Douglas, Murilo e Biel, que dividem uma casa na Via Ápia, rua comercial na Rocinha. Douglas sonha em tornar-se tatuador, Murilo é soldado militar e Biel é traficante. O livro é dividido em três partes: antes, durante e depois dos eventos em novembro de 2011, quando em mais uma tentativa da guerra contra às drogas, o BOPE e a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) ocuparam a favela da Rocinha com a operação Choque da Paz. A maioria de nós conhece apenas a versão dos fatos espetacularizada pela mídia, mas as atrocidades policiais e políticas cometidas não são o foco do autor, que é: “A Rocinha, um morro que não parava nunca. A maior favela da América Latina. Uma cidade dentro da cidade. Tão grande que nenhum cria é capaz de conhecer todos os becos, nenhuma pesquisa consegue calcular quantos habitantes.” A linguagem do livro é aquele carioquês que nos exige quase um dicionário próprio. Geovani a domina com maestria sem a menor intenção de adicionar uma nota de rodapé. Já os temas são bem conhecidos por todo bom brasileiro: a dificuldade de ganhar dinheiro honesto, os patrões cretinos, a violência policial, as praias e bailes funk cariocas. Uma leitura crua, honesta, dolorosa, familiar e muito bonita.
Filipe: NÃO LI NADA PORQUE NOS ÚLTIMOS MESES MOREI EM TRÊS CIDADES DIFERENTES E TÔ TRABALHANDO FEITO UM DOIDO, POIS TENHO UMA FILHA PRA CRIAR
Adendo da Jordana: Nota 10 para o meme acima.
O que ouvimos:
Jordana: Face - Jimin (2023). Ouvi repetidamente o primeiro álbum solo do meu esposo, Park Jimin. O integrante do BTS produziu o álbum inspirado no que sentiu após o grupo anunciar uma pausa nas atividades em conjunto para início das atividades militares obrigatórias dos membros. Se vocês acham que nós, armys, amamos o BTS, vocês não fazem ideia do quanto eles amam uns aos outros (a faixa “Alone” fala por si só). Não é porque ele é meu esposo, mas o álbum é um pop incrível com uma pegada mais obscura pra ouvir assim embriagado no escuro da buatchy. O single Like Crazy chegou ao #1 no Spotify Global e Hot 100 da Billboard, sendo o primeiro solo coreano a conseguir o feito. Bravo! 😍
Aurora - Daisy Jones & The Six (2023). Tendo me rendido devidamente à série, naturalmente me rendi também ao álbum da banda fictícia. Um rockinho romântico anos 70 com boas letras, bravo pra Taylor Jenkins Reid que se provou uma boa compositora. Vale lembrar que a Riley Keough, que interpreta a Daisy e é a cantora principal (é ela mermo cantando na série, meu povo), é neta de ninguém menos que Elvis Presley.
Did You Know that There’s a Tunnel under Ocean Blvd - Lana Del Rey (2023). Em primeiro lugar: pense num nome grande. Apesar de eu achar que a Lana não inova muito, ela nunca erra, ainda mais fazendo par com o produtor Jack Antonoff. O álbum é incrível, acho que artista também não é obrigado a ficar se reinventando para agradar a gente, né? Quem gostou, gostou; quem não gostou, paciência. Minha faixa favorita foi “The Grants”, uma linda homenagem para a família dela.
Filipe: Podcast Ouça o Que Eu Digo, T01E07: A História de “Camila Camila” (Nenhum de Nós). A proposta desse podcast é contar como clássicos do pop rock nacional nasceram e se desenvolveram. No último episódio da primeira temporada, o produtor, pesquisador e apresentador Júlio Ettore conta a história do grande sucesso da banda gaúcha Nenhum de Nós, “Camila Camila”. Lançada em 1987, a canção fala sobre violência doméstica e sua narrativa é baseada em um caso real de uma colega de escola dos rockeiros (que não se chamava Camila, diga-se). Mas o podcast vai além, trazendo estatísticas e fazendo um verdadeiro serviço de conscientização sobre esse problema que infelizmente ainda assola grande parte de meninas e mulheres do Brasil e do mundo.
Podcast Office Ladies, Interview with Steve Carell. The Office rivaliza com Friends como minha série de comédia favorita. E como sou viciado em saber detalhes de tudo, não poderia deixar de ouvir o podcast Office Ladies, apresentado pela Jenna Fischer e pela Angela Kinsey, as atrizes que interpretaram, respectivamente, a Pam e a Angela na série. Cada episódio do podcast é dedicado a um episódio da série, na sequência, mas às vezes elas trazem conteúdos especiais. Um dos programas mais recentes foi a entrevista com o Steve Carell, que durante sete temporadas interpretou o chefe sem-noção Michael Scott, já que, na edição anterior, elas falaram sobre o episódio em que Michael e Steve se despedem da série. A entrevista revela algo que elas sempre disseram no podcast: que Steve Carell é não só uma pessoa muito divertida, mas também muito doce e simples. O podcast é em inglês.
1001 Discos para Ouvir Antes de Morrer. Nos últimos meses, foram muitos discos, então vou falar apenas dos destaques, principalmente porque o Top 10 mudou bastante. Foram quatro novos discos entre os mais bem colocados, incluindo um novo primeiro lugar, desbancando First Band on the Moon, dos Cardigans, que lideraram solenes por oito meses. Desses quatro, três são a prova de que este projeto não tem nada de técnico e é puramente emocional. Na semana 49, Neil Young emplacou mais um, Rust Never Sleeps, em 5º lugar, porém, na semana 55, Morrissey, que — é sempre bom dizer — É UMA PESSOA HORRÍVEL, chegou ao topo da lista com seu disco solo de estreia Viva Hate. Gosto demais de The Smiths e não fui capaz de separar o artista da obra, principalmente sendo esta uma obra-prima do pop-rock. Duas semanas depois, A Rush of Blood to the Head, do Coldplay, um disco que meu irmão definiu como “trilha sonora pra arrumar o quarto ou pra planejar um su*cídi*”, estreou em 6º lugar, sublinhando a ideia de que minha memória e meu sentimento é o que valem aqui, já que foi um disco que eu furei de tanto ouvir, mesmo que tardiamente, cinco anos depois do lançamento. Por fim, na semana imediatamente seguinte, um classicozão da minha adolescência que foi parar direto no 2º lugar, Californication, do Red Hot Chili Peppers, a trilha do meu 1º ano do Ensino Médio e do casal Tati e Rodrigo de Malhação, com “Scar Tissue”. Sendo assim, segue o Top 10:
Viva Hate - Morrissey (1988)
Californication - Red Hot Chili Peppers (1999)
First Band on the Moon - The Cardigans (1996)
Moon Safari - Air (1998)
Being There - Wilco (1996)
Everybody Knows This Is Nowhere - Neil Young with Crazy Horse (1969)
A Rush of Blood to the Head - Coldplay (2002)
Rust Never Sleeps - Neil Young and Crazy Horse (1979)
Mr. Tambourine Man - The Byrds (1965)
Live! - Fela Ransome-Kuti and The Africa '70 with Ginger Baker (1971)
Quem somos:
Jordana: Graduada em Psicologia. Acabou enveredando para a tecnologia, onde atua como Search Engine Evaluator. Gosta de filmes e séries de boneco (lê-se Marvel, DC, Star Wars, Lord of the Rings e mais), anime, gatos, literatura e de estar com quem se ama. Comanda o @fortalendo no Instagram e já publicou textos no Bemdito.
Filipe: Graduado em Letras. Já trabalhei como professor, mas hoje atuo como tradutor freelancer. Passei a gostar de cachorros recentemente, mas ainda tenho ressalvas quanto a tomar sorvete na sobremesa. Escrevo de forma amadora e bem esporádica e talvez um dia eu tome vergonha e publique um livro. Tem alguns dos meus textos aqui.